Dentro dos quatro cantos do mundo
ouve-se comentários diversos sobre os cuidados da alimentação no paciente com
câncer. Apesar das controvérsias, estes cuidados devem existir e já são um fato
consumado.
Sabe-se, por exemplo, que
determinados tipos de câncer levam a alterações metabólicas que aumentam muito
o gasto energético do organismo, levando o paciente à perda de peso progressiva
e deixando o seu equilíbrio nutricional ainda mais vulnerável. Por isso é
sempre importante um cálculo correto do total calórico a ser ingerido no dia a
dia do paciente oncológico, a fim de compensar este gasto calórico extra
causado pela doença e evitando assim uma desnutrição acelerada.
É sempre interessante utilizar
alimentos com alta densidade energética, ou seja, aqueles com alto valor
calórico e nutricional mesmo em pequenos volumes, como azeite extravirgem,
oleaginosas e suplementos alimentares específicos.
Outra questão a ser avaliada são
os efeitos colaterais secundários às frequentes sessões de quimioterapia ou
radioterapia às quais os pacientes oncológicos são submetidos. Alguns efeitos
frequentes são: enjoos, vômitos, perda do apetite e dificuldade para mastigar e
engolir os alimentos, principalmente após radioterapias em regiões que afetam
boca e esôfago. Muitas vezes a maneira como o alimento é preparado deverá
ser modificada para facilitar a mastigação e a deglutição, como preparações
mais pastosas, temperatura adequada e evitar condimentos irritantes da mucosa
do esofágica e gástrica.
É prudente evitar os
alimentos industrializados como enlatados e embutidos e as frutas, verduras e
legumes contaminados por agrotóxicos, preferindo as versões orgânicas. Isto
porque eles possuem produtos químicos como agrotóxicos, bisfenol A (usado na
indústria dos plásticos), alguns edulcorantes, conservantes, metais tóxicos
(arsênico, chumbo, mercúrio, alumínio) e estas substâncias vêm sendo estudadas
como potenciais promotores de alguns tipos de câncer.
Muitos estudos têm observado que
vários compostos chamados de bioativos (polifenóis, flavonóides, carotenóides,
glicosinolatos) encontrados em alimentos vegetais como hortaliças, legumes,
verduras, frutas, cereais integrais e sementes têm um efeito protetor (diminuidor
do risco) contra alguns tipos de câncer.
Mesmo que o indivíduo já tenha
desenvolvido o câncer e esteja em tratamento do mesmo é importante encorajar o
paciente oncológico a ter uma alimentação mais rica nestes compostos a fim de
diminuir o risco de uma recidiva ou aumentar sua sobrevida. Estes
compostos bioativos estão presentes nos pigmentos que dão cor aos vegetais, por
isso quanto mais cores diferentes (laranja, verde, amarelo, roxo, vermelho)
estiverem presente na alimentação diária do paciente, mais benefícios serão
alcançados. Invista em saladas bem coloridas pelo menos duas vezes ao dia.
Mais uma questão a ser considerada
é o aumento do stress oxidativo, trata-se da elevação da produção de
substâncias chamadas radicais livres, desencadeado dentro do nosso organismo
pelo próprio câncer e também muitas vezes pelos medicamentos quimioterápicos em
uso. Para diminuir o impacto da elevação desta excessiva oxidação celular
é importante que a alimentação do paciente oncológico seja rica em
antioxidantes como: selênio (oleaginosas como castanhas, avelãs, amêndoas),
vitamina C ( laranja, limão, acerola, goji berry, goiaba) e vitamina E (
abacate, gérmen de trigo, óleos vegetais como azeite extra virgem).
De um modo geral é muito
importante a atenção nutricional no paciente oncológico, sendo necessário
orientação especializada de nutricionistas e médicos nutrólogos à fim de
melhorar o prognóstico, a qualidade de vida e a sobrevida destes pacientes.
Dicas
Algumas dicas nutricionais são
importantes para determinadas situações, como seguem abaixo:
Náuseas, enjoos e desarranjos
intestinais:
• Evite beber líquidos durante as refeições.
• Evite alimentos gordurosos e frituras.
• Não fique muitas horas sem se alimentar, pois com estômago muito tempo
vazio haverá aumento do enjoo.
• Chupar picolé de fruta cítrica (por exemplo, limão) pode diminuir o
enjoo.
Falta de apetite
• Prepare pratos visualmente atrativos, bem coloridos e de consistência
que facilite a deglutição pelo paciente. Acrescentar novos alimentos também
ajuda no estímulo para se alimentar.
• Coma devagar e em ambiente apropriado.
• Faça refeições mais leves, fracionadas a cada 3 horas.
Dificuldade para engolir ou dor na
boca
• Dê preferência aos alimentos de fácil mastigação e deglutição
(gelatinas, mingau, purês, suflês, pudins). Sucos e vitaminas de frutas batidas
no liquidificador são opções interessantes.
• Fazer bochechos com solução de bicarbonato de sódio a 3% após cada
refeição pode diminuir a acidez da boca e diminuir a dor bucal.
• Evite alimentos muito ácidos, muito salgados e condimentos picantes.
• Alimentos de consistência muito dura também podem atrapalhar.
Mitos e verdades
Alguns mitos também podem
confundir a alimentação adequada do paciente com câncer, como segue abaixo:
Mito: Após cirurgias a cicatrização pode ficar prejudicada se comer carne
de porco, peixes e ovos.
Verdade: Não existe oficialmente esta recomendação pela nutrologia.
Mito: Evitar alimentos
ácidos durante a quimioterapia.
Verdade: Apenas nos casos de câncer na região da boca, faringe e esôfago, após
radioterapia nestas regiões, os alimentos ácidos podem causar desconforto. Nos
casos de quimioterapia não há esta recomendação.
Mito: A beterraba pode
substituir a carne vermelha para tratar a anemia.
Verdade: Embora seja um alimento saudável, ela não tem o mesmo teor de ferro
quando comparada à carne vermelha.
Mito: Comer carne
vermelha pode aumentar o tamanho do tumor.
Verdade: Existe correlação de uma dieta rica em carne vermelha com maior risco de
desenvolver câncer do aparelho digestivo. Para diminuir este risco o
ideal é limitar a ingesta até 300 gramas por semana. Porém, já estando
com câncer e fazendo tratamento do mesmo, a carne vermelha não piora a doença.
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